segunda-feira, 1 de maio de 2017

Sobre a Greve Geral e a cobertura da mídia


NA COBERTURA DA GREVE GERAL BOA PARTE DA IMPRENSA BRASILEIRA PERDEU O RUMO DA VERDADE E SE TORNOU RIDÍCULA!

Gosto de ficar bem informado. Leio vários jornais, ouço o rádio quando estou no trânsito e no final do dia, assisto a mais de um noticiário. Confesso, porém, que nos últimos tempos uma sensação de nojo está tomando conta de mim. Nunca vi tamanha parcialidade tendenciosa por parte dos jornalistas. É legítimo que cada um tenha seu ponto de vista. É até interessante que o repórter tenha a oportunidade de expressar sua opinião, mas o que estamos assistindo hoje é um processo de lavagem cerebral. Muitos jornalistas abandonaram a imparcialidade e se votaram descaradamente ao serviço dos interesses dos grupos econômicos que pagam seus salários. Funcionários de veículos de comunicação claramente ligados a projetos políticos, econômicos e ideológicos de impostação neoliberal, selecionam conteúdos, censuram falas, omitem informações, distorcem fatos, manipulam notícias com o único objetivo de tornar “pública” a opinião dos poderosos. A cobertura da greve geral do dia 28 de abril foi escandalosamente parcial e ridícula. Além de minimizar o movimento grevista fizeram de tudo para criminalizá-lo. Megafones convocatórios das manifestações dos movimentos afinados com sua ideologia, só interrompiam suas programações para vender a imagem de que tudo no Brasil estava normal. Quando os fatos contradiziam essa mentira, faziam questão de nos chamar de vândalos. Deixaram de dar cobertura aos atos pacíficos que mobilizaram milhares de pessoas para noticiar isolados atos de quebradeira provavelmente provocados por infiltrados a mando de quem estava interessado em penalizar a luta dos trabalhadores. Entrevistaram uns poucos trabalhadores que se disseram prejudicados pela greve do transporte público, mas, caíram no ridículo quando mostraram os terminais vazios, pois a maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras nem saiu de casa para trabalhar. Os grandes centros urbanos tinham cara de domingo, pois muitos aderiram espontaneamente à greve. Reclamaram dos bloqueios das vias públicas invocando o direito a ir e vir e esqueceram que esse direito sagrado é violado todo dia quando os trabalhadores e trabalhadoras são transportados em condições desumanas em transportes coletivos gerenciados por empresários que tratam o povo como gado para garantir seus altos lucros. Além do mais, nos mesmos noticiários, numa evidente contradição, faziam questão de elogiar as manifestações e os bloqueios realizados na Venezuela contra o governo local, dando uma enésima prova da escandalosa e perversa parcialidade. Generosos em criticar a repressão das forças de segurança venezuelanas, nada disseram a respeito da violência policial utilizada contra os trabalhadores brasileiros em alguns estados do País. Entrevistaram pacientes que se sentiram prejudicados pela ausência de atendimento médico no dia da greve como se a precariedade dos serviços médicos fosse uma exclusiva do dia da greve geral. Todo dia milhares de brasileiros suportam filas enormes para marcar exames, mas os senhores jornalistas e seus patrões pouco sabem disso, pois afinal das contas eles têm plano de saúde. Passaram dezenas de vezes a briga que aconteceu no aeroporto do Rio entre manifestantes e taxistas, pois estes últimos se sentiam prejudicados. Mas várias vezes eu fiquei bloqueado no trânsito por causa de manifestações de taxistas que paravam seus veículos para reivindicar melhores condições de trabalho. É mais uma prova do esforço de dividir a classe trabalhadora para fragilizá-la. Mostraram-se sensibilizados com o prejuízo que os trabalhadores tiveram ao perderem o dia de trabalho, confirmando que o salário é tão miserável que um dia de pagamento traz muito prejuízo. Reparei que, pela primeira vez, não deram nenhum espaço à Assembleia anual da Conferência dos bispos do Brasil. É evidente que tal silêncio se deve à posição corajosa que os bispos católicos tomaram em relação às reformas, sugerindo o envolvimento da população nas discussões para o exercício efetivo da democracia participativa. Os microfones somente ficaram abertos para quem criticasse a greve geral. Não vi nenhuma entrevista a sindicalistas ou a manifestantes. Não houve contraditório. Enquanto se dava peso à declaração do ministro da justiça que julgava como pífio o movimento, a imprensa internacional sublinhava o sucesso da greve apresentando-a como um fato histórico. Apesar de elogiarem o tempo todo a operação lava jato, abriram os microfones para investigados e até denunciados para defenderem as reformas patrocinadas pelos banqueiros e empresários ávidos de lucro. Para conseguir o que querem, perderam a vergonha na cara e se aliaram com esse Congresso desmoralizado. Diarreicos em soltar denúncias contra os políticos que não fecham com eles, não medem esforços para blindar o atual governo só para garantir o que bem lhes interessa. Estão omitindo até as pesquisas com altos índices de rejeição contra o governo Temer que com certeza irão abandonar quando conseguirem o que querem. Estão fazendo maior pressão para que os sindicatos sejam responsabilizados e multados, mas omitem as dívidas que os grandes grupos empresariais (inclusive os deles) e os bancos têm com a previdência social e com outros setores do poder público por causa da inúmeras multas que receberam. Reclamam justamente quando são hostilizados pelos manifestantes, mas se acham no direito de humilhar, ridicularizar e criminalizar os/as trabalhadores, os manifestantes e todos aqueles que apresentam opiniões diferentes a deles. É muita mentira e contradição. O povo está se dando conta.
Agradeço o povo brasileiro por tudo aquilo que aconteceu no dia 28 de abril. Os atos de vandalismo foram isolados. Os trabalhadores e trabalhadoras demonstraram que têm um grande senso cívico. A participação foi maciça. As manifestações foram celebrações da vida. Apontaram para um projeto de democracia participativa. O povo não está disposto a perder direitos. Sinto pena dos brasileiros e brasileiras que olharam tudo isso com desprezo e, obcecados por visões distorcidas, estão apoiando esse arrastão que o governo está promovendo contra os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. O povo não é vagabundo, não está a fim de ser feito escravo. É preferível perder um dia de trabalho que trabalhar a vida toda sem dignidade. É melhor parar o Brasil por um dia que trabalhar sem parar para contribuir a vida toda com a previdência para sustentar a agiotagem do estado. Vale a pena se manifestar e participar ativamente, reapoderando-se do poder, sobretudo agora que boa parte dos parlamentares e do executivo já não representa os interesses de eleitores.  É importante lutar, pois o cidadão e cidadã merecem trabalho digno e tutelado e não um bico desprotegido. Enfim, é necessário sair às ruas e continuar a luta para exigir DIRETAS JÁ. O presidente legítimo é aquele que o povo escolhe pelo voto. 

NENHUM DIREITO A MENOS

Pe. Saverio Paolillo (pe. Xavier)
Missionário Comboniano
Pastoral do Menor e Carcerária
Centro de Direitos Humanos dom Oscar Romero - Paraíba